O TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO

Por Dra. Eliane Correa Miotto – O traumatismo cranioencefálico (TCE) ocorre devido a uma lesão anatômica e/ou alteração funcional do cérebro, das meninges ou de seus vasos. Por exemplo, um TCE pode ocorrer em decorrência de ferimentos por arma, mecanismos de aceleração e desaceleração do cérebro durante acidentes automobilísticos, contusões, edemas, hematomas e estiramento de axônios levando ao quadro conhecido como lesão axonal difusa (LAD; Brock e Cerqueira Dias, 2008; Miotto, 2015).

Após um TCE, prejuízos cognitivos, comportamentais e funcionais podem ser observados, dentre os quais se destacam os déficits de atenção sustentada, seletiva, dividida e alternada; velocidade de processamento de informações; funções executivas, como, planejamento, resolução de problemas e tomada de decisões; memória operacional e episódica; além de alterações comportamentais, incluindo desinibição, redução da autocrítica ou apatia. Alterações de linguagem também podem ocorrer pós-TCE no hemisfério dominante, incluindo problemas relacionados a produção e compreensão verbal, nomeação, leitura, escrita e cálculo. Além disso, o comprometimento do hemisfério não-dominante pode produzir quadro de agnosia visual ou dificuldade para reconhecer objetos, prosopagnosia ou dificuldade para reconhecer faces, além de alterações visuoespaciais, visuoconstrutivas e heminegligência visual.

Em geral, em serviços de pronto atendimento, utiliza-se a escala de coma de Glasgow (ECG) para classificar a gravidade do TCE (ver Tabela 1), baseando-se na melhor resposta verbal, abertura dos olhos e resposta motora.

Além da gravidade do TCE, é importante avaliar a duração do quadro de amnésia pós-traumática (APT) por meio da escala Galveston Orientation and Amnesia Test (GOAT) adaptada para a cultura brasileira (Silva, 2002). O quadro de APT se refere ao período de tempo entre o TCE e a recuperação da memória para eventos diários. É comum observar desorientação temporal e espacial, déficits cognitivos e alterações de comportamento durante esse período. Sabe-se que a duração do quadro de APT está diretamente relacionada ao grau de comprometimento e prognóstico pós-TCE (ver Tabela 2).
Diferentes fatores estão relacionados à recuperação pós-TCE. Além da gravidade do TCE e da APT, é importante considerar idade, grau de escolaridade, funcionamentos cognitivo e ocupacional prévios. Quanto mais cedo se inicia a intervenção de reabilitação neuropsicológica, melhor a evolução cognitiva e comportamental do paciente.
Referências bibliográficas

Brock RS, Cerqueira Dias PSS. Trauma de crânio. MedicinaNET, 2008. [Acesso em 14 dez 2018] Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1175/trauma_de_cranio.htm

Jennett B, Teasdale G. Management of head injuries. Philadelphia: F. A. Davis; 1981.

Miotto EC. Lesões adquiridas. In: Santos FH, Andrade VM, Bueno OFA, organizadores. Neuropsicologia hoje. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 2015.

Eliane Miotto
Livre-Docente pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP, PhD em Clinical Neuropsychology pela University of London – UK, Pós-Doutorado pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP)…

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